28 dezembro, 2006

Cultura Popular - Mamulengo

Mamulengo é uma espécie de divertimento popular que consiste em representações dramáticas, por meio de bonecos, em um pequeno palco ligeiramente elevado. Por detrás do pano escondem-se uma ou duas pessoas adestradas, fazendo com que os bonecos se exibam com movimento e fala.
A presença dos fantoches é assinalada desde a mais remota Antigüidade. Alguns estudiosos afirmam tenham se originado na Índia, outros asseguram serem oriundos do Egito, onde foram encontrados bonecos de ouro, marfim e barro. O certo é que os fantoches freqüentavam as feiras da Antiga Grécia e de lá passaram para Roma. Da Itália, na Idade Média, os títeres caminharam pelas mãos de artistas anônimos para vários países da Europa, fazendo a alegria das crianças e também dos adultos. Naquela época a Igreja valeu-se do teatro de marionetes para a difusão do espírito religioso, visando atrair a atenção dos fiéis de maneira direta e objetiva, tendo esta forma de espetáculo adquirido também o nome de “Presépio”, no qual figurava o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Deve ter sido sob esta forma que a representação entrou no Brasil.
Durante muitos anos, tanto na Europa quanto em nosso país, os fantoches trabalharam nas cenas religiosas para ensinar a história bíblica, e pouco a pouco é que se deu a sua secularização, isto é, foram neles introduzidos assuntos profanos, principalmente aqueles que provocam a hilaridade.
Os fantoches são feitos de madeira, metal, papel, palha, barro, etc. São vestidos a caráter. Geralmente cada boneco tem o seu nome e a sua personalidade. Em todas as representações, nunca saem de uma determinada “linha de conduta”. Assim o chorão, o briguento, o valente, o bondoso, sempre se apresentam com seus predicados, pelos quais se tornam conhecidos. Além desses personagens humanos, há também os bichos, destacando-se entre nós o brasileiríssimo jacaré.
Com o passar do tempo os bonecos foram adquirindo caráter diferente, graças à maneira de serem manejados pelos artistas, assim é que hoje podemos classificá-los em três grupos distintos;
a) – os de varinha; b) – os que são movimentados por cordinhas (marionetes); c) – os “guignol”, isto é, aqueles que são movimentados pela mão do artista, que é introduzida dentro do fantoche: o polegar vai a um dos braços, o indicador no orifício da cabeça e o médio faz o movimento do outro braço. A voz é de quem o maneja.O títere chegou ao Brasil em dois pontos diferentes e com um espaço de século e meio. Primeiramente apareceu em Pernambuco, talvez trazidos pelos holandeses, pois naquela época estava em grande voga na Holanda, sob o nome de “Jan Pickel Herringe”. Quanto ao nome mamulengo, não se sabe ao certo a origem, supondo uns que derive de “Mão Molenga”. É também conhecido como “Brincadeira de Molengo”. Os artistas pernambucanos de fantoches mais conhecidos foram o Dr. Babu, que exerceu enorme influência sobre os titeiristas que vieram depois, pois seus espetáculos eram, na maior parte, improvisados. O sucessor do Dr. Babu chamava-se “Cheiroso”, pelo fato de fabricar “cheiros”, essências baratas extraídas de flores e metidas em frasquinhos.
No Rio Grande do Sul os alemães trouxeram o “Kasperletheater”, que se naturalizou brasileiro sob o nome de “Gaspar”, para contar lendas brasileiras, como a do Negrinho do Pastoreio.
O teatro de fantoche é de grande valor educativo, pois é distração sadia, que dá grande alegria às crianças, por isso é um dos meios mais elevados para educar a infância. É muito usado em várias escolas, onde representam temas brasileiros e instrutivos. Recentemente a televisão vem divulgando o teatro de fantoches, acionados muitas vezes por ventríloquos. Em São Paulo e no Rio de Janeiro a criançada conhece o Mamulengo pelo nome pitoresco de “João Minhoca”.


Datas Comemorativas - Dia do Salva-vidas

Dia do Salva-Vidas (28/12)

Quem nunca ouviu falar daqueles profissionais que ficam na orla marítima para salvar quem se afoga? O salva-vidas tem um trabalho muito útil e também trabalham em clubes e em praias de água doce. Eles previnem situações de risco e executam salvamentos aquáticos, protegendo pessoas e resgatando vidas. Também são eles os responsáveis por salvar pessoas acometidas por choque térmico ou que se machucam surfando.
Ao salvar alguém que se afogou, o salva-vidas dá os primeiros-socorros além de verificar o estado da vítima. Eles também realizam o procedimento adequado para que a pessoa não fique com nenhuma seqüela do afogamento.
Além de atuar diretamente no salvamento, eles realizam campanhas educativas para prevenção de riscos e dão cursos para treinar e formar voluntários de emergência. Os salva-vidas que trabalham na orla marítima recebem treinamento de salva-vidas da Polícia Militar.

Datas Comemorativas - Dia da Abreugrafia

Manoel de Abreu e o Dia Nacional da Abreugrafia
O dia 4 de janeiro, dia do nascimento de Manoel Dias de Abreu, foi instituído como o dia nacional da abreugrafia em homenagem ao saudoso médico radiologista, nascido no ano de 1892 em São Paulo. O criador do exame (daí o termo abreugrafia) tornou-se mundialmente conhecido após o desenvolvimento do método diagnóstico e pela sua constante luta contra tuberculose.

Manoel de Abreu formou-se aos 21 anos pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1913. Em 1915 mudou-se para Paris onde freqüentou os hospitais Nouvel Hôpital de la Pitié, o laboratório central de Radiologia do Hôtel-Dieu e o Hospital Laennec. Publicou diversos livros, entre eles o “Radiodiagnostic dans la tuberculose pleuro-pulmonaire” e diversos artigos sobre a abreugrafia em periódicos nacionais e internacionais como “Collective Fluorography” no Radiology e “Processus and Apparatus for Roentgenphotography” no The American Journal of Roentgenology and Radium Therapy (AJR), ambos em 1939. Em reconhecimento ao seu trabalho, o ilustre radiologista recebeu diversas homenagens das principais entidades médicas como a medalha de ouro médico do ano) do American College of Chest Physicians (1950), o diploma de honra da Academy of Tuberculosis Physicians (1950) e a medalha de Ouro do Colégio Interamericano de Radiologia (1958). Além disso, recebeu o título de membro honorário da Sociedade Alemã de Radiologia (1940) e do American College of Radiology (1945). Morreu vítima de câncer de pulmão em 1962, aos 70 anos.
O alto índice de mortalidade por tuberculose nas décadas de 30 e 40, principalmente no Rio de Janeiro, e a ineficácia dos instrumentos utilizados pelas autoridades sanitárias para combater a doença propiciaram o aparecimento da abreugrafia. O primeiro aparelho destinado a realizar exames em massa da população foi construído pela Casa Lohner e instalado na cidade do Rio de Janeiro em 1937. O método era muito sensível, com especificidade razoável, de baixo custo operacional e permitia a realização de um grande número de exames em um curto espaço de tempo. O exame tinha por princípio a fotografia do écran ou tela fluorescente. A documentação era feita através de filme comum de 35 mm ou 70 mm. Abreu sempre recomendou o filme de 35 mm, que embora de menor custo, exigia o uso de lentes de aumento especiais para a interpretação do exame.
Roentgenfotografia foi o nome escolhido por Abreu na apresentação da nova técnica à Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro em julho de 1936. Poucos anos mais tarde, em 1939, no I Congresso Nacional de Tuberculose, no Rio de Janeiro, a designação abreugrafia foi aceita por unanimidade. O exame foi utilizado no rastreamento da tuberculose e doenças ocupacionais pulmonares, difundindo-se rapidamente pelo mundo graças ao baixo custo operacional e alta eficiência técnica. Unidades móveis foram desenvolvidas e utilizadas em todo mundo. Fora da América do Sul, a denominação do exame era variável: Mass radiography, miniature chest radiograph (Inglaterra e Estados Unidos), Roentgenfluorografia (Alemanha), Radiofotografia (França), Schermografia (Itália), fotorradioscopia (Espanha) e fotofluorografia (Suécia). Tal era a aprovação e o entusiasmo pelo método na época que somente na Alemanha, até o ano de 1938, o número de exames realizados pelo professor Holfelder já ultrapassava a 500 mil. A importância de sua obra também levou à criação da Sociedade Brasileira de Abreugrafia em 1957 e à publicação da Revista Brasileira de Abreugrafia.
Nas últimas décadas, a manutenção precária dos equipamentos brasileiros (o que facilitava o excesso de exposição a radiação ionizante) e as diretrizes de proteção radiológica cada vez mais rigorosas, acabaram limitando a utilização do método nos diversos países. A radiologia brasileira, entretanto, já havia dado uma importante contribuição para a medicina mundial.

O Ano-Novo

O Ano-Novo é um evento que acontece quando uma cultura celebra o fim de um ano e o começo do próximo. Todas culturas que têm calendários anuais celebram o "Ano-Novo". A celebração do evento é também chamada réveillon, termo oriundo do verbo réveiller, que em francês significa "despertar".

A comemoração ocidenteal tem origem num decreto do governador romano Júlio César, que fixou o 1º de janeiro como o Dia do Ano-Novo em 46 a.C. Os romanos dedicavam esse dia a Jano, o deus dos portões. O mês de Janeiro, deriva do nome de Jano, que tinha duas faces - uma voltada para frente e a outra para trás.


Celebrações modernas de Ano-Novo
1º de janeiro: Culturas ocidentais nas quais o ano começa em janeiro.

Em Nova Iorque a celebração mais famosa de Ano-Novo é a de Times Square - onde uma bola gigante começa a descer às 23 horas e 59 minutos até atingir o prédio em que está instalada, marcando exatamente zero hora (00:00:00).
No Rio de Janeiro a celebração mais famosa é a dos fogos de artifício em Copacabana. Milhares de cariocas e turistas juntam-se nas ruas à beira-mar e nas praias para assistirem ao interminável espectáculo, que começa prontamente à meia-noite do novo ano.
Em São Paulo a Avenida Paulista é o palco de atrações e queima de fogos. Em 31 de Dezembro de 2005, a festa reuniu mais de 2 milhões de pessoas.
Na Escócia há muitos costumes especiais associados ao Ano-Novo - como a tradição de ser a primeira pessoa a pisar a propriedade do vizinho, conhecida como first-footing (primeira pisada). São também dados presentes simbólicos para desejar boa sorte, incluindo biscoitos.
Em muitos países, as pessoas têm o costume de soltar fogos de artifício em suas casas, como é o caso do Brasil, dos Países Baixos e de outros países europeus.
Muitas pessoas tomam decisões de Ano-Novo, ou fazem promessas de coisas que esperam conseguir no novo ano. Elas podem desejar perder peso, parar de fumar, economizar dinheiro e arrumar um amor para suas vidas.
Em países de língua inglesa, cantar e/ou tocar a música Auld Lang Syne é muito popular logo após a meia-noite.

No antigo Egito, há 3750 anos antes de Cristo! A estrela Sirius alinhava-se com a estrela Canopus no rumo Sul ao centro da Via-Lactear; Exatamente à zero-hora sobre as Pirâmides de Guiza.
O calendário egípcio deu lugar ao cristão. O primeiro minuto de janeiro, abre-se a janela do Ano-Novo! *** Orion * Sirius. Até os dias de hoje.

Feliz Ano-Novo em outras línguas

Português: Feliz Ano-Novo
Alemão: Glückliches Neues Jahr
Dinamarquês: Nytar
Espanhol:Feliz Año Nuevo
Esperanto: Feliĉigan Novan Jaron
Francês: Heureuse Nouvelle Année
Galego: Feliz Aninovo
Hebraico: Shaná Tová
Inglês: Happy New Year
Italiano: Felice Nuovo Anno
Japonês: 明けましておめでとうございます(akemashite omedetou gozaimasu)
Russo: Счастливого Нового Года {Schastlivogo Novogo Goda}

27 dezembro, 2006

Dia de Reis


O Dia de Reis, segundo a tradição católica, seria aquele em que Jesus Cristo recém-nascido recebera a visitação de "uns magos" que, segundo o hagiológio foram três Reis Magos, e que ocorrera no dia 6 de janeiro.
Histórico
A data marca, para os católicos, o dia para a adoração aos Reis, que a tradição surgida no século VIII converteu nos santos Belchior, Gaspar e Baltazar.
Nesta data, ainda, encerram-se para os católicos os festejos natalinos - sendo o dia em que são desarmados os presépios.

Folia de Reis

Folia de Reis é um festejo de origem portuguesa e ligado às comemorações do culto católico do Natal que, trazidos para o Brasil, mantém-se vivo nas manifestações folclóricas de muitas cidades, sobretudo da região Nordeste.

Origens
Na tradição católica, a passagem bíblica (Novo Testamento), em que o Messias anunciado foi visitado por "uns magos", tornou-se uma visitação feita por Reis (a partir do século III). Incorporada como verdade (no século VIII), a estes reis foram dados nomes (Belchior, Baltazar e Gaspar) e adorados como santos pelo hagiológio.
Fixando o nascimento de Jesus Cristo a 25 de dezembro, marcou-se a data da visitação dos Reis Magos como sendo o dia 6 de janeiro.
Como forma de festejar os eventos natalinos, as casas eram visitadas por grupos que tocavam músicas alegres, em nome dos "Santos Reis". Esta tradição, oriunda de Portugal, ganhou força no Brasil do século XIX, mantendo-se viva em muitos lugares, sobretudo nas pequenas cidades dos estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Norte, etc.

O "Terno" de Reis
No Brasil a visitação das casas, que dura do final de dezembro até o dia de Reis, são feitos por grupos, muitos deles organizados e com propósitos sociais.
Cada grupo, chamado em alguns lugares de Terno de Reis, é composto de músicos - onde os instrumentos são em sua maioria de confecção caseira, como o reco-reco, tambores, flautas de pífaro e outros - dançarinos, cantores e um líder. As canções, a maioria com temas religiosos, realizam o ritual da visitação onde na verdade o propósito, ao contrário dos Reis da tradição, não é o de levar presentes, mas de recebê-los.
Estes presentes vêm, pelo dono da casa premiada com a visita, em bebidas, dinheiro para a manutenção do grupo, ou mesmo das comidas natalinas.

Grupos incrementados
Uma das formas de sobrevivência da manifestação folclórica, sobretudo em grandes cidades, foi a incorporação nos Ternos de elementos figurativos, destinados sobretudo para a apresentação junto aos turistas. Fantasiados com máscaras, e usando de danças alheias ao costume, entretanto, e com apresentações durante todo o ano, esses grupos não atendem ao preceito tradicional e culturalmente valioso.

Canções
As canções de Reis são por vezes ininteligíveis, dado o caos sonoro produzido. O ritmo em geral ganha contornos de origens africanas, com fortes batidas, e com um clímax em que os membros rodam em círculo contínuo.
Um componente, entretanto, permanece imutável: a canção de chegada, onde o líder pede permissão ao dono da casa para entrar, e a canção da despedida, onde o Terno agradece a acolhida e se despede.

20 dezembro, 2006

Hélio Oiticica - Qual é o Parangolé?

“Os trabalhos de Oiticica são profundamente enraizados no Brasil moderno, em sua natureza tropical, em sua realidade social e em uma cidade particular: Rio”, escreveu o crítico inglês Guy Brett na revista Art in America, em 1989. “ Qual é o Parangolé?” era uma gíria muito usada na cidade, nos anos 60, e significava, dentre outros sentidos mais secretos, “O que é que há?”, “Qual é a parada?” A parada de Hélio Oiticica, o artista que amava a sombra e adorava fazer o que ninguém aprova, era a imersão na marginalidade, no morro da Mangueira, na gíria, na malandragem, no samba. SEJA MARGINAL, SEJA HERÓI dizia Hélio em plena ditadura militar.
Fonte: Perfis do Rio

18 dezembro, 2006

Comunidade Virtual - Parangoleando

Participe da Comunidade Parangolenado no Orkut!!!

Parangolé: fenômeno catalisador de linguagens


Pois quando escuto ou leio, as palavras nem sempre vêm atingir em mim significações já presentes. Têm o extraordinário poder de me atrair para fora de meus pensamentos, abrem em meu universo privado fissuras por onde irrompem outros pensamentos.
Maurice Merleau-Ponty(O homem e a adversidade).

Pedagogia do parangolé - novo paradigma em educação presencial e online

Marco Silva*

Assim como inspira a inquietação dos programadores da TV, a interatividade também pode despertar o interesse dos professores para uma nova comunicação com os alunos em sala de aula presencial e online. Afinal, tanto a mídia de massa quanto a sala de aula estão diante do esgotamento do mesmo modelo comunicacional que prevaleceu no século XX: a transmissão que separa emissão e recepção, a lógica da distribuição.

O termo apareceu na década de 1970 no contexto da crítica à mídia unidirecional e virou moda a partir de meados dos anos 80 com a chegada do computador com múltiplas janelas (windows) em rede. Janelas que não se limitam à transmissão, permitem ao usuário adentramento labiríntico e manipulação de conteúdos.

Em nossos dias, mesmo ganhando maturidade teórica e técnica com o desenvolvimento da internet e dos games, o termo interatividade sofre banalização quando usado como "argumento de venda" em detrimento do prometido mais comunicacional. Basta ver a enxurrada de aplicações do termo, desde shampoo interativo e tênis interativo até mesmo a escola interativa, nesse caso apenas por estar equipada com computador e internet e não por superar a velha pedagogia da transmissão.
Vale a pena atentar para o sentido depurado do termo interatividade que encontra seus fundamentos na arte "participacionista" da década de 1960, definida também como "obra aberta" por Umberto Eco. O "parangolé" do artista plástico carioca Hélio Oiticica é um exemplo maravilhoso dessa arte.

Interagir não é assistir

O parangolé rompe com o modelo comunicacional baseado na transmissão. Ele é pura proposição à participação ativa do "espectador" - termo que se torna inadequado, obsoleto. Trata-se de participação sensório-corporal e semântica e não de participação mecânica. Oiticica quer a intervenção física na obra de arte e não apenas contemplação imaginal separada da proposição. O fruidor da arte é solicitado à "completação" dos significados propostos no parangolé. E as proposições são abertas, o que significa convite à co-criação da obra. O indivíduo veste o parangolé que pode ser uma capa feita com camadas de panos coloridos que se revelam à medida que ele se movimenta correndo ou dançando.

Oiticica o convida a participar do tempo da criação de sua obra e oferece entradas múltiplas e labirínticas que permitem a imersão e intervenção do "participador", que nela inscreve sua emoção, sua intuição, seus anseios, seu gosto, sua imaginação, sua inteligência. Assim a obra requer "completação" e não simplesmente contemplação. Segundo o próprio Oiticica, "o participador lhe empresta os significados correspondentes - algo é previsto pelo artista, mas as significações emprestadas são possibilidades suscitadas pela obra não previstas, incluindo a não-participação nas suas inúmeras possibilidades também".

Esta concepção de arte (ou "antiarte", como preferia Oiticica), inconcebível fora da perspectiva da co-autoria, tem algo a sugerir ao professor: mesmo estando adiante dos seus alunos no que concerne a conhecimentos específicos, propõe a aprendizagem na mesma perspectiva da co-autoria que caracteriza o parangolé e a arte digital. O professor propõe o conhecimento. Não o transmite. Não o oferece à distância para a recepção audiovisual ou "bancária" (sedentária, passiva), como criticava o educador Paulo Freire.

Desafio para o professor

Inspirado no parangolé, o professor propõe o conhecimento aos estudantes, como o artista propõe sua obra potencial ao público. Isso supõe, segundo Thornburg & Passarelli, "modelar os domínios do conhecimento como 'espaços conceituais', onde os alunos podem construir seus próprios mapas e conduzir suas explorações, considerando os conteúdos como ponto de partida e não como ponto de chegada no processo de construção do conhecimento". A participação do aluno se inscreve nos estados potenciais do conhecimento arquitetados pelo professor de modo que evoluam em torno do núcleo preconcebido com coerência e continuidade. O aluno não está mais reduzido a olhar, ouvir, copiar e prestar contas. Ele cria, modifica, constrói, aumenta e, assim, torna-se co-autor. Exatamente como no parangolé, em vez de se ter obra acabada, têm-se apenas seus elementos dispostos à manipulação.

O professor disponibiliza um campo de possibilidades, de caminhos que se abrem quando elementos são acionados pelos alunos. Ele garante a possibilidade de significações livres e plurais e, sem perder de vista a coerência com sua opção crítica embutida na proposição, coloca-se aberto a ampliações, a modificações vindas da parte dos alunos. Uma pedagogia baseada nessa disposição à co-autoria, à interatividade, requer a morte do professor narcisicamente investido do poder. Expor sua opção crítica à intervenção, à modificação, requer humildade. Mas, diga-se humildade e não fraqueza ou minimização da autoria, da vontade, da ousadia. Seja na sala de aula equipada com computadores ligados à Internet, seja no site de educação a distância, seja na sala de aula "infopobre", o professor percebe que o conhecimento não está mais centrado na emissão, na transmissão.
Na era digital ou cibercultura os atores da comunicação têm a interatividade e não mais a separação da emissão e recepção própria da mídia de massa e da "cultura da escrita", quando autor e leitor não estão em interação direta. Assim o professor propõe o conhecimento à maneira do parangolé. Assim ele redimensiona a sua autoria: não mais a prevalência do falar-ditar, da distribuição, mas a perspectiva da proposição complexa do conhecimento à participação ativa dos alunos que já aprenderam com o joystick do videogame e hoje aprendem com o mouse. Enfim, a responsabilidade de disseminar um outro modo de pensamento, de inventar uma nova sala de aula, presencial e a distância, capaz de educar em nosso tempo.
*Sobre o autor:Marco Silva, sociólogo, doutor em educação e professor da UERJ e da Estácio de Sá, é autor do livro Sala de aula interativa (Quartet, 2000) e coordenador do livro Educação online (Loyola, 2003).
Site: http://www.saladeaulainterativa.pro.br/E-mail: aulainterativa@msm.com.br